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terça-feira, 17 de junho de 2014

Capoeira -A arte das senzalas

Linda arte da Capoeira

 Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Capoeira é uma arte marcial genuinamente brasileira. Segundo a maioria dos estudiosos, ela foi desenvolvida, aqui no Brasil, pelos negros trazidos da África para trabalharem como escravos nas fazendas, na época da colonização do nosso País. Não se sabe ao certo quando chegaram os primeiros escravos ao Brasil, mas calcula-se algo em torno de 1540. Com eles, vieram também suas crenças e costumes. À noite, reunidos nas senzalas, cantavam e dançavam embalados pelo ritmo do adufe (instrumento musical da época, semelhante ao pandeiro). Essa "dança" era chamada pelos escravos de "Dança da Zebra", (n’angolo, dança angolana). Face a necessidade de se protegerem contra o chicote e o "tronco" do feitor, esses escravos introduziram nessa dança, vários golpes giratórios e traumatizantes, muitas vezes fatais, de acordo com a intensidade aplicada e área atingida. Acredita-se que desta fusão de dança/golpes deu-se o surgimento da Capoeira, vindo a se aperfeiçoar com o passar dos anos. Estima-se que a capoeira surgiu por volta de 1600.
A origem da palavra capoeira vem do tupi-guarani, que significa "área de vegetação rasteira" ("caa", significa mato e "puera", que foi mato), local onde os escravos fugitivos se escondiam e formavam os "QUILOMBOS ".  Um dos quilombos mais importantes da nossa história foi o de Palmares (1604-1695), situado na Serra da Barriga (hoje estado de Alagoas, na época, uma capitania do estado de Pernambuco), chegou a abrigar aproximadamente 30 mil negros. Foi nele que seus líderes, Ganga Zumba e, posteriormente,Zumbi dos Palmares  , ficaram conhecidos por suas batalhas e conquistas, vindo este último, a falecer em 20 de novembro de 1695 com dois tiros à queima roupa, disparados por Domingos Jorge Velho.
Fator importante que contribuiu para a formação dos quilombos foram as invasões francesas, onde as atenções eram desviadas para estas, favorecendo a fuga dos negros. Em 1694, quando cessou o domínio holandês, começaram a destruição dos quilombos.
A "Lei do Sexagenário" e a "Lei do Ventre Livre" foram marcos importantes para que, finalmente, a "Lei Áurea", promulgada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, firmasse a abolição da escravatura. A partir dessa data, a capoeira passou a ser amplamente praticada pelos escravos libertos, vindo a erigir-se nas ruas, praças e em manifestações públicas. Os negros, por serem considerados como uma "raça inferior" pela classe social privilegiada e, alguns, por não terem condições mínimas de sobrevivência, passaram a utilizar a capoeira para promoverem algazarras e desordens públicas. Visto isso, a capoeiragem passou a ser expressamente proibida, quando da vinda da Família Real ao Brasil em 1808 e da criação da Guarda Real da Polícia, em 1809, no comando do Major Miguel Nunes Vidigal. Este, foi o verdadeiro terror dos capoeiristas.
No Governo de Marechal Deodoro da Fonseca, a capoeira foi introduzida no Código Penal (1890). Aos infratores, eram aplicadas severas punições como prisões e trabalhos forçados. Não obstante, eram praticadas, às escondidas, em quintais, praias e nos arredores das cidades.
Esta situação perdurou até 1932, quando, finalmente, Getúlio Vargas, dentre outras manifestações populares, liberou a prática da capoeira. Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba - 1900/1974), foi um dos grandes capoeiristas que lutou para a liberação deste esporte, elevando-o a reconhecimento nacional.
Intrínseco à capoeira, estão o maculelê, a dança do fogo e a puxada de rede, que são outras manifestações culturais, que resgatam os rituais de guerra e da pesca do xaréu, respectivamente.
CapoeiraApós várias décadas no anonimato, hoje a capoeira vem sendo amplamente divulgada nacional e internacionalmente. O Brasil, é o maior exportador de profissionais deste esporte, principalmente aos países europeus.
Considerada como um esporte em ascensão, a capoeira se apresenta nos mais variados segmentos sociais, tais como: centros comunitários, associações, clubes esportivos, escolas, universidades, além das inúmeras academias.
Louvável também a atuação de vários profissionais dessa área que desenvolvem projetos com crianças excepcionais e centros de reabilitação.
A capoeira é um valioso recurso pedagógico e artístico, face a beleza e desenvoltura com que são realizados seus movimentos.
Melhora da circulação sangüínea, desenvolvimento da coordenação motora, estimulação da criatividade, aumento da massa muscular, da elasticidade, do reflexo, da autoconfiança e da auto-estima, são alguns dos benefícios que esse esporte traz a seus adeptos, além do estabelecimento harmônico entre espírito e corpo.
A filosofia da capoeira é contribuir para a formação de valores humanos e éticos, baseados no respeito, na socialização e na liberdade, através de trabalhos que valorizam a cultura brasileira. Tudo isso buscando fortalecer e engrandecer o capoeirista no seu caráter, dignidade e valorização pessoal.
A Capoeira representa o patrimônio da Cultura Brasileira. É a expressão viva da liberdade de um povo, portanto, merecedora do nosso respeito.
Na roda da Capoeira, embalados pelo ritmo do berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco, os capoeiristas vão criando situações de defesa e ataque, sempre zelando pela integridade física do adversário. Nela, não há lugar para preconceitos e vaidades pessoais e o homem, vale pela sua arte.
É como dizia o saudoso Mestre Pastinha (1889/1981), um dos grandes doutrinadores da capoeira angola: "capoeira é para homem, menino e mulher, e só não aprende quem não quer".
Para a capoeira e o camaleão mudar, é preciso apenas preservar a sua essência!

Hoje em dia, a capoeira se tornou não apenas uma arte ou um aspecto cultural, mas uma verdadeira exportadora da cultura brasileira para o exterior. Presente em dezenas de países em todos os continentes, todo ano a capoeira atrai ao Brasil milhares de alunos estrangeiros e, frequentemente, capoeiristas estrangeiros se esforçam em aprender a língua portuguesa em um esforço para melhor se envolver com a arte. Mestres e contra-mestres respeitados são constantemente convidados a dar aulas especiais no exterior ou até mesmo a estabelecer seu próprio grupo. Apresentações de capoeira, geralmente administradas em forma de espetáculo, acrobáticas e com pouca marcialidade, são realizadas no mundo inteiro.
O aspecto marcial ainda se faz muito presente e, como nos tempos antigos, ainda é sutil e disfarçado. A malandragem é sempre presente, capoeiristas experientes raramente tiram os olhos de seus oponentes em um jogo de capoeira, já que uma queda pode chegar disfarçada até mesmo em um gesto amigável. Símbolo da cultura afro-brasileira, símbolo da miscigenação de etnias, símbolo de resistência à à opressão, a capoeira mudou definitivamente sua imagem e se tornou fonte de orgulho para o povo brasileiro. Atualmente, é considerada patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. 

                      Roda de capoeira

A roda de capoeira é um círculo de capoeiristas com uma bateria musical em que a capoeira é jogada, tocada e cantada. A roda serve tanto para o jogo, divertimento e espetáculo, quanto para que capoeiristas possam aplicar o que aprenderam durante o treinamento. Os capoeiristas se perfilam na roda de capoeira cantando e batendo palmas no ritmo do berimbau enquanto dois capoeiristas jogam capoeira. O jogo entre dois capoeiristas pode terminar ao comando do tocador de berimbau ou quando algum outro capoeirista da roda "compra o jogo", ou seja, entra entre os dois e inicia um novo jogo com um deles.
Em geral, o objetivo do jogo da capoeira não é o nocaute ou destruir o oponente. O maior objetivo do capoeirista ao entrar em uma roda é a queda, ou seja, derrubar o oponente sem ser golpeado, preferencialmente com uma rasteira. Na maioria das vezes, entre o jogo de um capoeirista mais experiente e um novato, o capoeirista experiente prefere mostrar sua superioridade "marcando" o golpe no oponente, ou seja, freando o golpe um instante antes de completá-lo. Entre dois capoeiristas experientes, o jogo poderá ser muito mais agressivo e as consequências mais graves.
A ginga é o movimento básico da capoeira, mas além da ginga, também são muito comuns os chutes em rotação, rasteiras, floreios (como o aú ou a bananeira), golpes com as mãos, cabeçadas, esquivas, acrobacias (como o salto mortal), giros apoiados nas mãos ou na cabeça e movimentos de grande elasticidade.

                              O batizado

O batizado é uma roda de capoeira solene e festiva, onde alunos novos recebem sua primeira corda e demais alunos podem passar para graduações superiores. Em algumas ocasiões, podem-se ver formados e professores recebendo graduações avançadas, momento considerado honroso para o capoeirista. O batizado parte ao comando do capoeirista mais graduado do grupo, seja ele mestre, contramestre ou professor. Os alunos jogam com um capoeirista formado e devem tentar se defender. Normalmente, o jogo termina com a queda do aluno, momento em que é considerado batizado, mas o capoeirista formado pode julgar a queda desnecessária. No caso de alunos mais avançados, o jogo poderá ser com mais de um formado, ou até mesmo com todos os formados presentes, para as graduações avançadas.

                                            O apelido

Tradicionalmente, o batizado seria o momento em que o capoeirista recebe ou oficializa seu apelido, ou nome de capoeira. A maioria dos capoeiristas passa a ser conhecida na comunidade mais pelos seus respectivos apelidos do que por seus próprios nomes. Apelidos podem surgir de inúmeros motivos, como uma característica física, uma particular habilidade ou dificuldade, uma ironia, a cidade de origem etc.
O costume do apelido surgiu na época em que a capoeira era ilegal. Capoeiristas evitavam dizer seus nomes para evitar problemas com a polícia e se apresentavam a outros capoeiristas ou nas rodas pelos seus apelidos. Dessa forma, um capoeirista não poderia revelar os nomes dos seus companheiros à polícia, mesmo que fosse preso e torturado. Hoje em dia, o apelido continua uma forte tradição na capoeira, apesar de não ser mais necessário.

                                     Música

                                   
A música é um componente fundamental da capoeira. Foi introduzida como forma de ludibriar os escravizadores, fazendo-os acreditar que os escravos estavam dançando e cantando, quando na verdade estavam desenvolvendo e treinando uma arte marcial para se defenderem. Componente fundamental de uma roda de capoeira, ela determina o ritmo e o estilo do jogo que é jogado. A música é criada pela bateria e pelo canto (solista ou em coro), geralmente acompanhados de um bater de palmas.
A bateria é, tradicionalmente, composta por três berimbaus, dois pandeiros e um atabaque, mas o formato pode variar excluindo-se ou incluindo-se algum instrumento, como o agogô e o ganzuá. Um dos berimbaus define o ritmo e o jogo de capoeira a ser desenvolvido na roda. Desta maneira, é a música que comanda a roda de capoeira, não só no ritmo mas também no conteúdo.

                                       Canções

As canções de capoeira são divididas em partes solistas e respostas do coro, formado por todos os demais capoeiristas presentes na roda. Dependendo do seu conteúdo, podem ser classificadas como ladainhas, chulas, corridos ou quadras. A ladainha ou lamento é utilizada unicamente no início da roda de capoeira. É parte do longo grito "iê", seguido de uma narrativa solista cantada em tom solene. Geralmente, é cantada pelo capoeirista mais respeitado ou graduado da roda. Neste momento, não existe jogo, não se bate palmas e alguns instrumentos não são tocados. A narrativa é seguida pelas homenagens tradicionais feitas pelo solista (a Deus, ao seu mestre, a quem o ensinou e mais qualquer personagem importante ou fator relevante à capoeira, como a malandragem), respondidas intercaladamente pela louvação do coro e pelo início das palmas e dos instrumentos complementares. O jogo de capoeira somente pode iniciar após o fim da ladainha.
A chula é um canto em que a parte solista é muito mais longa do que a a resposta do coro. Enquanto o solista canta dez, doze, ou até mais versos, o coro responde com apenas dois ou quatro versos. A chula pode ser cantada em qualquer momento da roda. O corrido, forma musical mais comum da roda de capoeira, é um canto onde a parte solista e a resposta do coro são equivalentes, em alguns casos o número de versos do coro superando os versos solistas. Pode ser cantado em qualquer momento da roda e seus versos podem ser modificados e improvisados durante o jogo para refletir o que está acontecendo durante a roda, ou para passar algum aviso a um dos demais capoeiristas.
A quadra é composta de um mesmo verso repetido quatro vezes, seja três versos solistas e uma resposta do coro, seja a parte solista e a resposta intercaladas. Pode ser cantada em qualquer momento da roda. As canções de capoeira têm assuntos dos mais variados. Algumas canções são sobre histórias de capoeiristas famosos, outras podem falar do cotidiano da comunidade. Algumas canções comentam o que está acontecendo durante a roda de capoeira, outras divagam sobre a vida ou um amor perdido. Outras ainda são alegres e falam de coisas tolas, cantadas apenas por diversão. Basicamente não existem regras e alunos são encorajados a criar suas próprias canções.
Os capoeiristas mudam as canções frequentemente de acordo com o que ocorre na roda ou fora dela. Um bom exemplo é quando um capoeirista novato demonstra notável habilidade durante o jogo e o solista canta o verso "e o menino é bom", seguido pelo coro com o verso "bate palma pra ele". A letra da música é constantemente usada para passar mensagens para um dos capoeiristas, na maioria das vezes de maneira velada e sutil.

                            Toques de capoeira

O toque de capoeira é o ritmo tocado pelos berimbaus, seguidos pelos demais instrumentos. Podem ser executados desde bem lentamente (como no toque de Angola), induzindo a um jogo mais lento e estratégico, até bastante acelerados (como em São Bento Grande), induzindo a um jogo rápido, ágil e acrobático. Podem também ter outros significados que vão além do jogo ou comandar uma roda restrita, como o toque de Iúna.
Berimbaus. Da  esquerda para direita: viola, médio e gunga ou berra-boi.
Em uma roda de capoeira, a forma mais usual é iniciar com o toque de Angola e subir o ritmo gradualmente, encerrando com o toque São Bento Grande em alta velocidade. Contudo não existem regras, uma roda pode manter sempre o mesmo toque ou mesmo inverter, começando de modo acelerado e terminando de modo lento.
Alguns dos toques mais comumente utilizados:
  • Toque de Angola
  • São Bento Pequeno
  • São Bento Grande de Angola
  • São Bento Grande da Regional
  • Iúna
  • Cavalaria
  • Samango
  • Santa Maria
  • Benguela
  • Amazonas
  • Idalina

                              A dança e a capoeira

Devido a sua origem e história, existiu sempre a necessidade de se esconder ou disfarçar o aprendizado e a prática da capoeira. Na época da escravidão, era um risco enorme aos senhores de engenho possuir escravos hábeis em uma arte-marcial. Para evitar represálias por parte de seus senhores, os escravos praticavam enquanto seus companheiros cantavam e batiam palmas. Os golpes e esquivas eram praticados durante uma falsa dança que seria o embrião da atual ginga.
Da falsa dança da época dos engenhos de açúcar até os tempos mais atuais, a ginga evoluiu até se tornar uma estratégia de combate, cujo objetivo principal é não oferecer ao oponente um alvo fixo. Mesmo hoje em dia a maioria dos leigos à primeira vista acredita tratar-se a capoeira de uma coreografia, ou de uma dança acrobática. Outras manifestações culturais como o batuque, o maculelê, a puxada de rede e o samba de roda são danças fortemente ligadas à capoeira, por também terem nascido da mesma cultura.